A lagoa pede socorro.

A Lagoa merece. Juntos — poder público e população — podemos resolver esse problema de forma definitiva.

Reprodução Instagram

Lagoa da Conceição pede solução definitiva: esgoto, recorrência de manchas e a obrigação dos órgãos públicos

Símbolo da Ilha de Santa Catarina, a Lagoa da Conceição volta ao centro do debate ambiental. Nas últimas semanas, moradores registraram manchas e espuma na água; a CASAN atribuiu o episódio, em nota, à possibilidade de ligações clandestinas de esgoto, enquanto o IMA abriu vistorias e coleta para confirmar a origem. O próprio boletim de balneabilidade do IMA já vinha apontando florações de algas na Lagoa — o que, por si, pode comprometer o contato primário.

Um passivo que não foi embora desde 2021

Em 25 de janeiro de 2021, o rompimento da lagoa de evapoinfiltração anexa à ETE da Lagoa provocou uma avalanche de lodo e efluente que desceu pelas dunas até a orla, arrastou carros e atingiu dezenas de casas — episódio classificado por pesquisadores da UFSC como de alto impacto e que gerou determinações judiciais para ações de recuperação imediatas. Desde então, decisões na Justiça Federal e Estadual fixaram obrigações e indenizações; em 2025, o TJSC manteve condenações por danos morais a moradores afetados.

O que os órgãos dizem que estão fazendo

A CASAN afirma tocar um Plano de Recuperação Ambiental com reforço de dunas, restinga e dragagens na área da lagoa de evapoinfiltração, além de monitoramento da biota aquática. Em paralelo, avançou o Trato Pela Lagoa — força-tarefa de inspeções sanitárias, fiscalização e educação ambiental na bacia, conduzida por CASAN, Prefeitura e governo estadual. A Prefeitura mantém o Floripa Se Liga na Rede, programa de vistoria gratuita em imóveis para corrigir ligações irregulares.

Mas não basta: seis inquéritos do Ministério Público de SC já foram abertos (2023) para investigar construções e ligações irregulares na capital — incluindo a Lagoa —, sinal de que o problema é estrutural e persistente.

O que falta — e por que a tecnologia já permite resolver

Com a engenharia disponível hoje, é possível entregar uma solução definitiva para a Lagoa. Isso passa por:

  • Rede separadora absoluta e interceptores estanques, com telemetria e redundância em elevatórias para evitar extravasamentos.
  • Varredura sistemática por teste de fumaça e traçadores fluorescentes em quadras da bacia, até zerar ligações clandestinas.
  • Protocolos de resposta rápida (em horas) para bloqueio de descargas e contenção de plumas, com comunicação pública em tempo real.
  • Metas contratuais transparentes para CASAN e metas regulatórias do IMA/Prefeitura, com painel online de indicadores (pontos de coleta, E. coli, cianobactérias, interdições).
    Essas medidas estão presentes em cidades costeiras que reverteram quadros crônicos de contaminação e são compatíveis com a realidade técnica e financeira de Florianópolis. O que falta é prioridade, coordenação e execução contínua. (Análise a partir dos programas oficiais e boas práticas setoriais.)

Cobrança direta aos responsáveis

  • CASAN — entregar infraestrutura estanque, planos de contingência auditáveis e cronograma público da recuperação, com prazos e marcos físicos; cumprir ordens judiciais já estabelecidas.
  • Prefeitura/Floram — ampliar fiscalização in loco, autuar ligações irregulares e condicionar licenças a comprovantes de conexão correta; integrar dados com CASAN e IMA.
  • IMA — reforçar monitoramento de balneabilidade (comunicados claros sobre florações de algas) e publicar séries históricas de qualidade da água por ponto.
  • Ministérios Públicos — manter o acompanhamento judicial das obrigações de fazer e dos planos de recuperação.

E o papel da população?

A Lagoa é de todos — e começa na porta de casa. Donos de imóveis precisam autorizar e agendar as vistorias gratuitas dos programas Trato Pela Lagoa e Floripa Se Liga na Rede, corrigindo saídas de banheiro/cozinha ligadas por engano à pluvial (rua, valas, canais) em vez da esgoto. Denúncias de lançamento irregular podem ser feitas à Prefeitura e ao IMA.

TODOS JUNTOS PELA LAGOA

A Lagoa da Conceição não pode conviver com episódios recorrentes de contaminação mais quatro verões seguidos após 2021. Há tecnologia e há programas em curso — mas a sociedade tem o direito de exigir entrega, com prazos, metas e transparência. Enquanto isso, cada morador pode fazer a sua parte: abrir a casa para inspeção, regularizar a ligação, denunciar irregularidades e proteger o patrimônio natural mais querido de Florianópolis.

Sobre o autor

Compartilhar em: