A pressa de resolver a vida em 30 dias: por que o fim do ano ativa tanta ansiedade?
Reflexão e dicas da psicóloga Tatiana Guarnieri

Quando dezembro chega, algo muda no ar. Parece que o mundo inteiro aperta o passo: o trânsito fica mais caótico, as demandas aumentam, os prazos encurtam e, sem perceber, você também entra nesse ritmo acelerado.
Mesmo que o calendário diga que falta pouco para o ano acabar, internamente surge um sentimento de corrida contra o tempo, como se existisse um cronômetro invisível repetindo: “Corre. Você está atrasado.”
*Mas será que é mesmo?*
Ao longo do ano, muita coisa fica em suspenso: desejos, metas, conversas, decisões. E quando o fim do ciclo se aproxima, tudo isso ganha um peso diferente. De repente, aquilo que esteve parado por meses parece virar prioridade absoluta, é como se você precisasse resolver sua vida inteira em 30 dias.
Essa pressa é uma mistura de comparação, autocobrança e a sensação de “última chance”: a ideia de que se você não realizar tudo agora, o ano foi perdido.
*O efeito “última chance”: quando a mente cria urgência onde não existe*
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) explica esse movimento através de um tipo de pensamento muito comum no fim do ano: O pensamento tudo-ou-nada. Ele funciona assim:
Ou você fecha todas as metas… Ou é como se não tivesse feito nada.
Esse padrão abre espaço para ansiedade, culpa e sensação de fracasso, mesmo quando você fez muito durante o ano todo. É a mente que cria a urgência, não a realidade.
Como mudar essa dinâmica? Comece pela pergunta certa! No meio desse turbilhão, uma pequena mudança pode fazer diferença:
Em vez de perguntar: “Como eu resolvo tudo antes de dezembro acabar?”
Experimente perguntar: “O que realmente importa eu fazer agora?”
Essa troca simples tira você do modo corrida e te devolve clareza. Permite olhar para as tarefas pelo que elas são, não pelo que seus pensamentos catastróficos dizem que elas significam. A partir daí, surge espaço para escolher o essencial, ao invés de tentar abraçar o impossível.
Seu valor não depende da sua produtividade, fim de ano não deveria ser sobre se provar, mas sobre se perceber. E isso inclui reconhecer:
– o que você carregou além do necessário,
– o que te custou energia demais,
– o que pode ser deixado para depois,
– e tudo o que você conquistou, mesmo que não esteja na lista de metas.
O seu valor não está no número de tarefas concluídas nos últimos 30 dias. Está na intenção, no cuidado e nos passos consistentes ao longo do ano inteiro.
Respira. Reorganiza. Escolhe o essencial.
Se dezembro está te deixando ansiosa(o), sobrecarregada(o) ou com a sensação de que nunca é suficiente, talvez seja sinal de que o que pesa não é o calendário, é o que você tem carregado aí dentro.
