América do Sul acelera guinada à direita com vitória de Kast no Chile e redesenha o tabuleiro regional
Eleição chilena reforça onda conservadora já vista em Argentina, Bolívia, Equador e Paraguai, enquanto Brasil, Colômbia e Venezuela seguem em governos de esquerda; especialistas alertam para nuances e limites do “rótulo ideológico”.

A eleição de José Antonio Kast no Chile consolida uma tendência que vem se desenhando em parte da América do Sul: a busca por governos identificados com pautas de direita, sobretudo com ênfase em segurança pública, imigração, austeridade fiscal e discurso pró-mercado. Kast venceu o segundo turno com uma plataforma centrada em endurecimento contra o crime e controle de fronteiras, numa virada considerada a mais forte à direita no país desde o retorno da democracia.
O movimento chileno não ocorre no vácuo. A Argentina segue sob Javier Milei, figura que se projetou como libertário de linha dura na economia e na redução do Estado, com reformas e enfrentamento aberto a corporações políticas e sindicais se tornando marca do governo. Já a Bolívia encerrou um ciclo longo do MAS com a eleição de Rodrigo Paz, descrito como centro-direita, prometendo reorganização econômica e combate a distorções estruturais do país. No Equador, Daniel Noboa foi empossado para novo mandato, mantendo um perfil associado à agenda de segurança e gestão econômica mais liberal. E o Paraguai permanece com Santiago Peña, do Partido Colorado, tradicional força conservadora do país.
Mas há um ponto essencial para o leitor: “guinada à direita” virou um rótulo rápido — e, muitas vezes, simplificador. Em vários países, o que se vê não é uma uniformidade ideológica, e sim uma reação social a problemas concretos (crime, custo de vida, desemprego, imigração, corrupção) que empurra o eleitor a escolher projetos que prometem ordem e previsibilidade. No Chile, por exemplo, o próprio ambiente institucional impõe limites: Congresso dividido, negociações inevitáveis e resistência legislativa a propostas mais radicais, o que tende a moderar parte do programa no dia a dia.
Do outro lado do espectro, ainda existem governos claramente identificados com a esquerda na região, como Colômbia, sob Gustavo Petro, e a Venezuela, sob Nicolás Maduro. O Brasil, por sua vez, permanece com Lula no Planalto, mantendo o país entre os grandes polos regionais com governo de esquerda (o que, por si só, influencia o debate continental em temas como integração, comércio, energia e posicionamentos em organismos multilaterais).
Outro cuidado necessário: nem toda mudança recente significa “virada definitiva”. O Peru, por exemplo, vive instabilidade política recorrente e está sob um presidente de transição, José Jerí, que chegou ao cargo após destituição de sua antecessora e com eleição geral marcada para 2026 — um cenário que dificulta classificar o país como “alinhado” a uma corrente estável.
No campo geopolítico, a tendência pode produzir efeitos práticos. Uma região com mais governos de centro-direita tende a pressionar por maior rigor fiscal, aproximação com mercados internacionais, revisão de marcos regulatórios e postura mais dura contra crime organizado e imigração irregular. Ao mesmo tempo, diferenças nacionais seguem fortes — e o novo desenho pode tanto aumentar a cooperação em segurança e comércio quanto ampliar atritos diplomáticos, a depender de como cada liderança administrar discurso interno versus pragmatismo externo.
O resumo do momento é claro: a América do Sul está mudando de pele política, mas o que realmente definirá os próximos anos não será o rótulo “direita” ou “esquerda” — e sim a capacidade de cada governo de entregar segurança, emprego, inflação sob controle e serviços públicos que funcionem. Se isso não acontecer, a história da região mostra que a “onda” muda de direção com a mesma velocidade com que se forma.
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