Brasil preserva — e é soberano.

Entre as maiores taxas de preservação do planeta, o Brasil não abdica do direito de decidir, como transformar riqueza natural em qualidade de vida para sua população.

O Brasil é, ao mesmo tempo, potência ambiental e país de desafios sociais. Aqui, a proteção do meio ambiente se expressa em leis robustas, áreas protegidas extensas e regras únicas no mundo para propriedades privadas. Ao mesmo tempo, milhões de brasileiros pedem oportunidade, renda e serviços. A questão central — e soberana — é como conciliar essas duas verdades: preservar muito e destravar um desenvolvimento que reduza desigualdades.

Nos fatos, o país preserva em grande escala. Uma parcela significativa do território permanece coberta por vegetação nativa e grandes áreas estão legalmente protegidas, do parque nacional à terra indígena e às reservas particulares. No campo, o Código Florestal exige que cada imóvel rural mantenha uma porção intocada de vegetação nativa — a chamada Reserva Legal —, que chega a 80% na Amazônia, 35% no Cerrado da Amazônia Legal e 20% nos demais biomas, além das Áreas de Preservação Permanente ao longo de rios, encostas e nascentes. Em termos práticos: mesmo sendo áreas produtivas, parte do território privado é destinada por lei à conservação, há mais de uma década.

Ao contrário do que se imagina, o problema brasileiro não é a falta de regras, mas como aplicá‑las com eficiência enquanto se gera prosperidade. O país possui instrumentos para licenciamento ambiental, regularização fundiária e monitoramento remoto que permitem dizer “sim” com responsabilidade a projetos estratégicos — de energia, infraestrutura e minerais críticos —, com metas de desmatamento ilegal zero, compensações ambientais proporcionais, rastreabilidade e benefícios locais (emprego, saúde, educação e crédito produtivo).

É legítimo que organizações internacionais opinem; não é legítimo que tentem impor veto externo ao desenvolvimento nacional. O Brasil pode — e deve — ouvir a ciência, a sociedade e os povos locais, mas a decisão é brasileira. Soberania significa estabelecer zonas onde não se mexe e zonas onde se desenvolve com alto padrão socioambiental; significa também repartir benefícios com as comunidades que guardam a floresta e os biomas, e punir quem destrói fora da lei.

O caminho de consenso passa por três chaves: (1) priorizar valor agregado (bioeconomia, fármacos, produtos florestais não madeireiros, alimentos e fibras com selo de origem), (2) acelerar projetos de infraestrutura e energia limpa que reduzam custo Brasil sem abrir mão de salvaguardas, e (3) transformar a proteção em oportunidadescréditos de carbono com integridade, pagamentos por serviços ambientais e mercados que paguem pelo produto sustentável.

O mundo pode — e deve — reconhecer o que o Brasil já preserva e o nível de exigência que assumiu. Mas cabe a nós decidir como converter essa proteção em desenvolvimento justo. Soberania e responsabilidade não são opostos: são as duas pernas com que o Brasil pode caminhar para que a riqueza natural se traduza em dignidade para quem hoje vive — ou melhor, sobrevive — em meio a tantas dificuldades.

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