Caos nas contas públicas.
Ministro Fernando Haddad terá que encontrar soluções drásticas para buscar o equilíbrio fiscal.

O retrato fiscal preocupa. Depois do rombo de R$ 228 bilhões em 2023, o acumulado de 2025 já supera R$ 100 bilhões até setembro, enquanto a dívida bruta se aproxima de 78% do PIB, em trajetória ascendente. Isso significa que o governo gasta persistentemente mais do que arrecada e precisa rolar e emitir dívida em volumes crescentes. O efeito imediato aparece no prêmio exigido pelos investidores para financiar o Tesouro: quanto maior a incerteza sobre a estabilização das contas, maior o juro de longo prazo — e, por tabela, mais caro fica o crédito para empresas e famílias, o que esfria investimento e consumo.
O canal cambial também sente. Dúvidas sobre a disciplina fiscal tendem a fragilizar a moeda, encarecendo importados e insumos industriais e alimentando pressões inflacionárias. Para contê-las, a política monetária precisa ser mais dura por mais tempo, atrasando cortes de juros. É um círculo vicioso: déficit alto → dívida maior → juro longo mais caro → atividade mais fraca, com impacto direto no emprego, no custo do capital e na capacidade do país de crescer com previsibilidade.
A conta social do desequilíbrio é conhecida. Sem ancoragem fiscal, programas públicos ficam mais sujeitos a contingenciamentos, obras atrasam, repasses a entes subnacionais sofrem e o espaço para políticas anticíclicas reduz. Do lado privado, empresas adiam projetos por incerteza regulatória e de custo financeiro, e famílias convivem com parcelas mais pesadas e crédito restrito. Em resumo: desarranjo fiscal cobra imposto invisível na forma de juros altos, inflação potencial e crescimento magro.
Sair desse trilho exige meta crível e entrega: combate a gastos ineficientes, revisão de subsídios e renúncias que não geram retorno, priorização de investimentos com alto efeito multiplicador e agenda de produtividade (simplificação tributária infralegal, marcos pró-concorrência, segurança jurídica). Pelo lado da receita, o foco deve ser base ampla e estável, não aumentos pontuais que deprimem atividade. Transparência e balizas claras — com monitoramento frequente e correções automáticas — ajudam a ancorar expectativas e a reduzir o juro neutro da economia.
Para o leitor e para as empresas, o recado prático é de gestão de risco enquanto a âncora não se firma: alongar passivos quando possível, reforçar reserva de liquidez, travar custos financeiros em patamares oportunos e priorizar projetos com retorno rápido. Do lado do governo, o teste é imediato: estancar a alta da dívida e sinalizar que 2026 começa com contas sob controle, condição para juros mais baixos de forma sustentável, câmbio mais estável e crescimento menos volátil. Sem isso, o país patina; com isso, destrava o investimento e volta a discutir prosperidade, não só emergência.
