COP30 soma falhas, tensões e ausências que mancham a imagem do Brasil
Investimentos bilionários, problemas de organização, incidentes de segurança e a ausência das principais potências transformam o que deveria ser vitrine global em um constrangimento sucessivo.

A COP30, realizada em Belém do Pará, deveria ser o momento em que o Brasil mostraria ao mundo sua capacidade de liderança climática. Em vez disso, o que se acumulou foram vexames, decisões questionáveis e um conjunto de episódios que formam um retrato preocupante: gastou-se muito, entregou-se pouco e expôs-se demais. Para um país que buscava reafirmar protagonismo ambiental, o saldo é, no mínimo, decepcionante.
A primeira controvérsia veio antes mesmo do início da conferência: o valor investido. Fala-se em cifras milionárias, alguns apontando para patamares bilionários, num momento em que o Brasil opera com déficit primário superior a R$ 70 bilhões, sem espaço fiscal e com serviços públicos pressionados. A pergunta inicial continua sem resposta convincente: havia pertinência em gastar tanto para sediar a COP? Num país com prioridades urgentes, o debate é inevitável.
Na sequência do evento, multiplicaram-se episódios que reforçaram a sensação de improviso. Um dos mais comentados foi a utilização de transatlânticos movidos a combustíveis fósseis para hospedagem de parte dos participantes — justamente em uma conferência cujo pilar é a transição energética. O contraste entre discurso e prática não passou despercebido pela imprensa internacional.
A COP30 também viu os preços de bens e serviços dispararem, com relatos de hospedagens, transportes e alimentação saltando para valores fora da realidade, fenômeno que afeta diretamente delegações de países pobres, ONGs e pesquisadores — justamente quem deveria ter espaço na agenda climática.
A situação se agravou com a carta oficial enviada pela ONU ao governo brasileiro, cobrando explicações sobre problemas de segurança, logística e infraestrutura. Entre os relatos que circularam: jornalistas assaltados à luz do dia, participantes furtados e orientação de delegações estrangeiras para evitarem determinados trajetos. O caso do rabino que precisou ser escoltado durante um ato religioso, após manifestantes tentarem invadir o local aos gritos de “Palestina Livre” e “genocida”, expôs ainda mais a falha no controle do evento e a incapacidade de garantir o ambiente de diálogo que a COP exige.
E, como ponto final — ao menos até agora —, veio a ausência das maiores potências globais. Estados Unidos, China, Rússia, Japão, Itália e outras lideranças não enviaram seus chefes de Estado. O recado político é claro: a COP30 não foi vista como prioridade. Para o Brasil, que tentava capitalizar capital diplomático e se apresentar como polo de convergência ambiental, as ausências representam um golpe simbólico e estratégico.
A soma desses fatores deixa uma impressão inequívoca: o país desperdiçou uma oportunidade histórica. Não apenas de liderar o debate ambiental, mas de mostrar ao planeta uma imagem de eficiência, segurança e capacidade organizacional. Em vez disso, o que chegou ao mundo foram notícias de desorganização, conflitos, incoerências e improvisos.
O Brasil sai da COP30 chamuscado, quando deveria sair engrandecido. E isso não é apenas ruim para a diplomacia — é ruim para o clima de negócios, para a imagem institucional e para a confiança internacional num país que diz querer protagonismo ambiental e econômico.
Lamentamos. Porque poderia ter sido diferente.
