Encontro Trump e Lula
Protocolo, interesses e guerra de narrativas.

Ao comparar reportagens e postagens nas redes, salta aos olhos um padrão: muita gente narrou o encontro a partir do que gostaria que ele tivesse sido. É o velho jogo do enquadramento — ênfase em supostos gestos, tons e “climas” — que rende manchetes, mas não captura a substância.
Convém lembrar o básico. Brasil e Estados Unidos mantêm relação pragmática, atravessada por comércio, segurança, energia, clima e geopolítica. Não se agenda reunião para anunciar que não haverá conversa. Encontros desse nível, por definição, são protocolos de continuidade, abrem ou confirmam canais de negociação e delimitam próximas etapas.
Nesse sentido, o foco em “fulano elogiou”, “beltrano foi ríspido” — o “bate-boca de superfície” — pouco acrescenta. Diplomacia vive de roteiro e método: registrar convergências, listar divergências, designar interlocutores e seguir trabalhando. Isso, e não o ruído, é o que tem efeito prático.
A reunião de hoje foi diplomática, como deveria ser. Haverá novas conversas, e os EUA já apontaram quem falará em seu nome. O resto, no curtíssimo prazo, é a guerra de narrativas tentando ocupar o lugar dos fatos.
