Estádio Centenário: o berço do futebol mundial em Montevidéu

Série “Templos do Futebol”

Foto: Wikipédia

O Estádio Centenário, em Montevidéu, ocupa um lugar único na história do esporte. Mais do que um palco de futebol, ele é o cenário onde o jogo começou a se enxergar como um fenômeno mundial. Foi ali, em 30 de julho de 1930, que o Uruguai venceu a Argentina por 4 a 2 e conquistou a primeira Copa do Mundo da FIFA, em uma final que ajudou a transformar o futebol em linguagem universal.

Inserido no Parque Batlle, uma das áreas verdes mais tradicionais da capital uruguaia, o Centenário não está isolado da cidade. Ele convive com bairros residenciais, hospitais, monumentos e avenidas importantes, fazendo parte da paisagem cotidiana de Montevidéu. Diferentemente de arenas modernas afastadas dos centros urbanos, o estádio sempre foi um espaço popular, integrado à vida da cidade e facilmente acessível à população.

Sua construção foi, por si só, um feito histórico. Erguido em apenas nove meses, entre 1929 e 1930, o Centenário nasceu como parte das comemorações do centenário da primeira Constituição do Uruguai — origem do seu nome. Mesmo com chuvas constantes e recursos técnicos limitados, o país conseguiu entregar um estádio com capacidade para cerca de 90 mil pessoas à época, um dos maiores do mundo naquele momento.

A final da Copa de 1930 transformou o estádio em símbolo definitivo. O clássico entre Uruguai e Argentina extrapolou o esporte e ganhou contornos políticos, culturais e identitários. Mais de 68 mil pessoas acompanharam a decisão, em um jogo que consolidou o Uruguai como potência do futebol e deu legitimidade ao novo torneio criado pela FIFA. Curiosamente, a partida foi disputada com duas bolas diferentes: uma argentina no primeiro tempo e uma uruguaia no segundo, após acordo entre as seleções.

Com o passar das décadas, o Centenário se tornou um verdadeiro patrimônio nacional. O estádio representa a chamada “garra charrúa”, expressão que sintetiza a identidade esportiva uruguaia e a capacidade de superação do país. Em 1983, esse simbolismo foi reconhecido oficialmente quando a FIFA declarou o local como Monumento Histórico do Futebol Mundial, título concedido exclusivamente ao Centenário.

Um dos elementos mais marcantes da estrutura é a Torre de los Homenajes, visível de vários pontos da cidade. Além de funcionar como mirante, ela atua como memorial aos grandes momentos do futebol uruguaio e reforça o caráter quase solene do estádio. Dentro do complexo também funciona o Museu do Futebol, que preserva troféus, documentos e registros da trajetória do Uruguai no esporte.

Mesmo sem acompanhar as tendências arquitetônicas das arenas mais modernas, o Centenário segue relevante. É a casa da seleção uruguaia, palco de clássicos, finais continentais e eventos históricos. Sua importância não está no conforto ou na tecnologia, mas na memória acumulada em cada arquibancada, em cada túnel e em cada jogo decisivo disputado ali.

O Estádio Centenário segue como um lembrete de que alguns lugares não precisam se reinventar para permanecer atuais. Eles atravessam o tempo porque carregam significado. Em Montevidéu, o futebol não apenas foi jogado — ele começou a se entender como espetáculo global.

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