EUA devem classificar Maduro como terrorista — e o continente entra em zona de risco | DMA Notícias

Classificar o regime de Maduro como ligado ao terrorismo amplia sanções, aumenta a pressão militar no Caribe e eleva o risco para civis em toda a região.

Foto: Facebook

Os Estados Unidos devem oficializar, ainda nesta segunda-feira, a inclusão do governo de Nicolás Maduro — por meio da estrutura conhecida como “Cartel de los Soles” — na lista americana de organizações terroristas. A medida, articulada pelo Departamento de Estado e anunciada em antecipação por autoridades norte-americanas, representa o passo mais duro de Washington contra Caracas em muitos anos e abre um cenário de consequências imprevisíveis para toda a região.

Segundo autoridades dos EUA, a designação é sustentada em supostas ligações do governo venezuelano com redes de narcotráfico internacional, ações de cooperação com grupos criminosos e envolvimento em atividades consideradas uma ameaça direta à segurança dos Estados Unidos e de seus aliados. O governo Maduro rebate, classificando a iniciativa como “ridícula” e afirmando que se trata de mais uma tentativa de desestabilização política promovida por Washington.

Independentemente da retórica de ambos os lados, colocar a Venezuela — e, indiretamente, seu próprio governo — na lista de terrorismo não é um gesto simbólico. É um dispositivo legal que amplia drasticamente o alcance das ações americanas. Com essa classificação, o governo dos EUA pode congelar ativos, bloquear transações financeiras, penalizar qualquer terceiro país ou empresa que mantenha relações de apoio com o regime venezuelano e adotar medidas de natureza militar sob o argumento de combate ao terrorismo internacional.

Embora a designação não signifique automaticamente que tropas norte-americanas entrarão em território venezuelano, ela abre caminho jurídico para operações especiais, interceptações marítimas, sobrevoos armados, ações diretas contra estruturas consideradas de apoio ao suposto cartel e até incursões limitadas sob justificativa de segurança nacional. Isso coloca a Venezuela — já fragilizada economicamente e politicamente isolada — em uma posição extremamente vulnerável.

Para os civis, é onde mora o maior risco. Em zonas de tensão como o Caribe, qualquer movimento militar pode provocar efeitos colaterais sobre populações inteiras. Uma ação mal calculada, um erro de identificação de alvo, um bloqueio marítimo mais rígido ou a intensificação das sanções econômicas podem significar escassez de alimentos, medicamentos, combustíveis e até deslocamentos forçados. A história demonstra que conflitos assim raramente atingem apenas governos; atingem, sobretudo, pessoas inocentes.

A Venezuela já enfrenta profundas dificuldades internas, com inflação elevada, desabastecimento recorrente e milhões de cidadãos emigrando para países vizinhos — entre eles o Brasil, que tem recebido contingentes significativos de venezuelanos nos últimos anos. Uma escalada provocada pela classificação de terrorismo tende a aumentar esse fluxo, pressionar ainda mais fronteiras e desencadear tensões de segurança em toda a região.

A movimentação recente dos Estados Unidos no Caribe também não passa despercebida. A presença reforçada de navios militares, aeronaves e exercícios conjuntos indica que Washington está disposto a manter pressão máxima sobre o regime de Maduro. A decisão de rotular o governo venezuelano como terrorista, portanto, insere-se em uma estratégia mais ampla — e mais agressiva — de influência regional.

Para o Brasil, o episódio não pode ser tratado como algo distante. Somos vizinhos diretos, compartilhamos fronteira extensa e já sentimos os reflexos sociais e econômicos da crise venezuelana. Qualquer instabilidade adicional terá impacto imediato, seja no acolhimento de refugiados, na segurança da região norte ou na geopolítica hemisférica, que tende a se reorganizar rapidamente diante desse novo passo dos EUA.

O fato concreto é que, caso os Estados Unidos confirmem a designação, entraremos em uma nova fase de tensão no continente, onde acusações de terrorismo, tráfico internacional e segurança nacional se misturam com interesses estratégicos e movimentações militares. É um cenário que exige cautela, diplomacia e responsabilidade — especialmente porque quem paga o preço mais alto, como sempre, não são governos, mas pessoas comuns presas entre disputas de poder.

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