INCRÍVEL – Fusão de duas galáxias.
O universo é incrível.

A 114 milhões de anos‑luz da Terra, as galáxias IC 2163 e NGC 2207 protagonizam um espetáculo silencioso: estão em processo de fusão. Ao se cruzarem, suas gravidades esticam estrelas, gás e poeira como se fossem marés cósmicas, acendendo regiões de formação estelar e redesenhando braços espirais. É um evento lento na escala humana, mas fulminante em termos astronômicos: em centenas de milhões de anos, as duas devem se tornar uma só galáxia.
No primeiro ato, o aproximação mútua distorce as bordas dos discos, criando caudas de maré — longas “plumas” de estrelas e gás — e um arco comprimido em IC 2163 que lembra um “olho” ou onda de choque passando pelo disco. Esse encontro desencadeia ondas de densidade que comprimem nuvens moleculares e disparam berçários estelares, visíveis como nós azulados (estrelas jovens) e avermelhados (hidrogênio ionizado) espalhados pelos braços.
Segue‑se o primeiro sobrevoo: as galáxias se atravessam, perdem energia orbital por atrito dinâmico e, após recuar, entram numa dança de vai‑e‑vem. A cada passagem, perdem momento angular, as caudas se alongam e o gás é canalizado para o centro, onde pode alimentar explosões de formação estelar e, em certos cenários, os buracos negros supermassivos.
Quando a separação encurta, acontece a coalescência: os núcleos se aproximam, os discos se desorganizam e a morfologia espiral dá lugar a um corpo mais volumoso e espesso. Dependendo do quanto de gás restar, o resultado final pode lembrar uma espiral inchada com bojo dominante ou evoluir para algo elíptico, esgotando o gás em uma última leva de estrelas. Os restos das caudas se dispersam como um halo tênue, e o novo objeto herda um buraco negro central mais massivo, fruto da fusão dos anteriores.
Tudo isso acontece em cinco peças fundamentais: (1) marés que esticam e comprimem; (2) ondas de densidade que semeiam estrelas; (3) perdas orbitais por atrito com o próprio “mar” de estrelas; (4) inflow de gás para os centros; (5) coalescência de núcleos. No céu, vemos braços retorcidos, faixas de poeira cruzando os discos e aglomerados estelares jovens pontilhando as regiões de maior compressão.
Para o leitor curioso: essa coreografia não é exceção — é a regra na vida das galáxias. A própria Via Láctea já passou por fusões e, no futuro, deve se encontrar com Andrômeda. No caso de IC 2163/NGC 2207, o filme está no meio: elas já trocaram material, já deformaram seus discos e seguem ligadas pela gravidade. O próximo passo é estreitar a órbita até que os dois núcleos formem um só, apagando a fronteira entre quem é quem.
Por que essa história importa? Porque fusões moldam o Universo que observamos: definem tamanhos, formas e taxas de nascimento de estrelas, ajudam a crescer buracos negros e explicam por que galáxias massivas tendem a ser mais vermelhas e antigas. Ao estudar pares como IC 2163 e NGC 2207, astrônomos testam simulações numéricas, medem fluxos de gás e refinam a linha do tempo que vai do primeiro toque ao abraço final.
