Laguna respira história e tradição.

Série “Cidades de SC”.

Foto: Prefeitura Laguna

A pouco mais de 120 quilômetros de Florianópolis, Laguna é uma cidade em que o tempo parece se dividir entre o passado heroico e o presente à beira-mar. Foi palco da República Juliana, berço de Anita Garibaldi e cenário de um fenômeno natural único no mundo: a pesca cooperativa entre homens e botos. Entre casarios tombados, praias, dunas e o imponente Farol de Santa Marta, o município une história, tradição e natureza de forma singular.

A fundação de Laguna remonta ao século XVII, quando os portugueses estabeleceram um porto natural na região da lagoa, ponto estratégico para o escoamento da produção colonial. Durante a Guerra dos Farrapos, em 1839, a cidade viveu um dos episódios mais marcantes de sua história ao tornar-se capital provisória da República Juliana. Foi nesse contexto que Anita conheceu Giuseppe Garibaldi, união que a transformaria em símbolo de coragem e liberdade. Hoje, o Museu Casa de Anita, no centro histórico, preserva lembranças desse período e atrai visitantes de todo o país.

O Centro Histórico de Laguna, tombado pelo IPHAN em 1985, conserva mais de seiscentos imóveis de arquitetura luso-brasileira, igrejas e sobrados que contam a trajetória da cidade. Caminhar por suas ruas de pedra é percorrer capítulos vivos da história catarinense. Já na orla, o contraste entre passado e modernidade é visível na Ponte Anita Garibaldi, inaugurada em 2015. A estrutura, com mais de dois quilômetros de extensão, é uma das mais belas obras de engenharia do Estado e se tornou novo cartão-postal.

Foto: Prefeitura Laguna

Com 42 mil habitantes, Laguna mantém sua economia fortemente ligada ao mar. A pesca artesanal e a maricultura são tradições seculares, especialmente na captura do camarão, do siri e da tainha — esta última celebrada em festas que movimentam a cidade entre maio e julho. A pesca cooperativa com botos, no Canal da Barra, é um espetáculo à parte: golfinhos-nariz-de-garrafa aproximam os cardumes e sinalizam o momento exato para o pescador lançar a tarrafa. A sincronia entre homem e animal é tão precisa que cientistas do mundo inteiro estudam o fenômeno, reconhecido como patrimônio cultural imaterial catarinense.

As belezas naturais também definem Laguna. O Farol de Santa Marta, inaugurado em 1891, ergue-se a 29 metros sobre o morro e é considerado um dos maiores faróis das Américas. De lá, avista-se um cenário de mar aberto, costões, dunas e as praias que atraem surfistas e veranistas — Mar Grosso, Cardoso, Prainha e Itapirubá entre as mais conhecidas. No inverno, as águas frias do Atlântico Sul trazem um espetáculo natural: a passagem das baleias-francas, que utilizam o litoral lagunense como berçário. Parte do território está inserida na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, referência em conservação marinha.

Além da natureza exuberante, Laguna preserva um calendário de tradições culturais. A Festa do Divino Espírito Santo, de origem açoriana, colore as ruas com cortejos e bandeiras durante o período de Pentecostes. Na gastronomia, o sabor vem direto do mar: tainha assada, camarão ao bafo, mariscos e risotos são pratos típicos que representam a simplicidade e riqueza culinária da região.

Com fácil acesso pela BR-101, a cidade é porta de entrada para o sul catarinense. No verão, as praias se enchem de turistas; no outono e na primavera, o clima ameno e o movimento reduzido revelam uma Laguna mais tranquila e autêntica. O visitante pode iniciar o roteiro pelo Centro Histórico e Museu Casa de Anita, seguir para o Farol de Santa Marta e encerrar o dia no Canal da Barra, esperando o pôr do sol e, com sorte, o salto dos botos que ainda hoje dividem o trabalho e o alimento com os pescadores.

Laguna é, ao mesmo tempo, memória e movimento. Entre o farol que guia o sul e as águas que sustentam sua gente, a cidade segue iluminando o caminho de quem busca história, cultura e beleza natural em um só destino.

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