Librelato — da serraria de Orleans à indústria que move cargas pelo Brasil

Série “Gigantes de SC”

Em 1969, em Orleans (SC), uma pequena serraria da família Librelato fez sua primeira carroceria de madeira. Parecia apenas mais um ofício do interior; era, na verdade, o início de uma marca que aprenderia a transformar trabalho de chão de fábrica em escala industrial — e que, sem abandonar o sotaque catarinense, passaria a abastecer estradas do país inteiro. Anos depois, o negócio ganharia nome e ambição: dos “Irmãos Librelato” às linhas de implementos, com a decisão de fabricar, padronizar e levar solução completa para quem vive da rota e do frete.

A virada veio com método: primeiro, foco em produto (o primeiro basculante em 1998, o primeiro graneleiro em 2001); depois, capacidade instalada e logística (new plant em Içara, 2007; unidade fabril em Criciúma, 2010). Nesse meio-tempo, a porta do mundo se abriu: exportações a partir de 2007 e, com qualidade e pós-venda, a empresa chegou a ser a segunda maior exportadora do setor. O que estava em jogo não era só vender mais: era construir reputação técnica num mercado que não perdoa falhas.

A maturidade também se mede em governança. Ao longo da última década, a Librelato tornou-se S.A., consolidou a holding Librepar e organizou um ecossistema de marcas complementares (montadora, autopeças e tecnologia). Em 2024, a companhia celebrou 55 anos e anunciou R$ 405 milhões em investimentos até 2028 para infraestrutura, digitalização e novos equipamentos — um plano que explica por que a curva de crescimento recente não é acaso. Em 2025, a estratégia deu outro passo: Librelato Center SP, um complexo industrial e comercial em Guarulhos (27 mil m², montagem em CKD, meta de até 2 mil implementos/ano) e o retorno produtivo a Orleans, honrando o berço.

Os números contam parte da história: top 3 entre fabricantes no Brasil, 13,5 mil implementos/ano, 14,2% de market share, mais de R$ 2 bilhões em faturamento (com estimativa setorial de R$ 3,4 bilhões em 2024) e presença em 27 estados, além de operação internacional. A liderança em nichos como graneleiros confirma a leitura de mercado e a capacidade de execução. Mas, atrás das estatísticas, há ferramental, processos e equipe — gente que corta, solda, pinta, monta e entrega. É nessa rotina que a promessa “fazer para durar” deixa de ser slogan e vira ativo de marca.

Também há uma memória afetiva que sustenta a trajetória — dos patriarcas Berto e Carolina aos herdeiros e executivos que profissionalizaram a gestão; de lideranças que nos deixaram, como José Carlos “Lussa” Librelato, a quem tantos colaboradores atribuem parte da cultura de ambição e cuidado. O reconhecimento cabe não só pelo que se construiu nas plantas de Içara e Criciúma, mas pelo que se irradiou para fornecedores, transportadores e cidades inteiras que passaram a viver de uma cadeia mais organizada e exigente.

Linha do tempo — marcos essenciais
1969 — Primeira carroceria de madeira em Orleans (SC).
1980 — Fase Irmãos Librelato (peças e assistência).
1992 — Consolidação em implementos agrícolas e rodoviários.
1998 — Primeiro semirreboque basculante.
2001 — Primeiro semirreboque graneleiro.
2007Exportações e nova unidade em Içara (SC).
2010 — Unidade fabril em Criciúma (SC).
2021–2024 — Nova sede em Içara; 55 anos; criação/expansão da Librepar.
2025Librelato Center SP (Guarulhos) e retorno produtivo a Orleans.

Mais que uma sequência de marcos, a Librelato é a prova de que Santa Catarina sabe fazer indústria com rigor e humanidade: ouvir o cliente, investir em processo, respeitar quem faz. Fica o reconhecimento — aos fundadores, às famílias que ficaram, às equipes que hoje ajustam cada solda e cada entrega — por uma obra que move a economia e orgulha o estado. Das oficinas de Orleans às docas de Guarulhos, das rotas do Sul às fronteiras de exportação, a mensagem permanece a mesma: quando se trabalha junto, o resultado dura mais — e vai mais longe.

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