Mapa da fome no Brasil: milhões ainda vivem entre a pobreza e a extrema pobreza, apesar dos avanços recentes

O Brasil avançou em diversos indicadores sociais nos últimos anos, mas o mapa da fome e da pobreza segue como um retrato duro e desigual do país. Levantamentos baseados em dados do IBGE, especialmente da PNAD Contínua, mostram que dezenas de milhões de brasileiros ainda vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza, dependendo diretamente de políticas públicas de transferência de renda para garantir o básico: comida na mesa.

De forma consolidada, o IBGE classifica como extrema pobreza as pessoas que vivem com renda mensal per capita insuficiente até mesmo para atender necessidades alimentares mínimas. Já a linha da pobreza inclui famílias que, embora consigam se alimentar, enfrentam severas restrições de acesso a moradia digna, saneamento, educação e saúde. Nesse cenário, programas como o Bolsa Família se tornaram essenciais para a sobrevivência de milhões de lares.

Os dados mostram que o problema não está distribuído de maneira homogênea pelo território nacional. Norte e Nordeste concentram, historicamente, os maiores percentuais de pessoas em situação de extrema pobreza e pobreza. Estados como Maranhão, Piauí, Alagoas, Ceará, Pará e Amazonas figuram entre aqueles com maior proporção de famílias dependentes de programas sociais. Em alguns deles, mais de 40% da população recebe algum tipo de benefício de transferência de renda, evidenciando o grau de vulnerabilidade social.

No Nordeste, o IBGE aponta que a taxa de pobreza permanece bem acima da média nacional, com milhões de brasileiros vivendo com renda insuficiente. No Norte, além da renda baixa, fatores como isolamento geográfico, dificuldades logísticas e ausência de serviços públicos ampliam o impacto da fome, especialmente em áreas rurais e comunidades tradicionais.

Por outro lado, estados do Sul e Sudeste, como Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, apresentam os menores índices de extrema pobreza do país. Ainda assim, mesmo nessas regiões consideradas mais desenvolvidas, há bolsões de miséria em áreas urbanas periféricas e no interior, o que reforça que o problema da fome não está restrito a uma única região.

Segundo dados oficiais, mais de 20 milhões de famílias brasileiras estão cadastradas no Bolsa Família, o que representa uma parcela significativa da população nacional. Em muitos lares, o benefício é a principal ou única fonte de renda, evidenciando que o programa, embora essencial, não pode ser tratado como solução definitiva, mas sim como uma política de emergência e proteção social.

O mapa da fome no Brasil também revela um desafio estrutural: crescimento econômico, por si só, não garante redução da pobreza se não vier acompanhado de políticas públicas eficientes, geração de emprego, educação de qualidade, saneamento básico e desenvolvimento regional. Estados com economias mais dinâmicas conseguem reduzir a pobreza de forma mais consistente, enquanto regiões historicamente negligenciadas seguem presas a ciclos de dependência.

Essa realidade impõe uma reflexão urgente. Combater a fome não é apenas distribuir renda, mas criar condições para que as pessoas não dependam eternamente dela. O Brasil precisa de um pacto nacional que envolva governos, Congresso, setor produtivo e sociedade civil para transformar assistência em oportunidade, e dependência em autonomia.

Enquanto milhões de brasileiros ainda lutam diariamente para garantir o básico, o mapa da fome segue como um alerta incômodo — e inadiável — de que o país precisa mudar prioridades. A fome não é estatística: é vida real. E enfrentá-la deveria ser uma política de Estado, acima de disputas ideológicas e interesses eleitorais.

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