Orgulho em dose dupla.
500 anos de SC e 100 anos da Ponte Hercílio Luz — um ano para celebrar.

Santa Catarina entra em 2026 com o coração cheio por dois marcos que raramente se alinham: os 500 anos de presença europeia registrada em nosso litoral — com referências de 1526 e a menção a “Santa Catarina” em um mapa‑múndi de 1529, atribuído a Diego Ribeiro — e os 100 anos de inauguração da Ponte Hercílio Luz, obra que mudou para sempre a paisagem e a vida do Estado. Não é apenas efeméride: é um convite a olhar a estrada percorrida, honrar as raízes e renovar a vontade de construir o amanhã.
Santa Catarina nasce do encontro. Povos originários que já habitavam estas terras muito antes de qualquer carta náutica; o choque e a convivência com chegadas europeias; mais tarde, as levas de imigrantes luso‑açorianos, alemães, italianos, poloneses, ucranianos, entre tantos outros, espalhando sotaques e ofícios do planalto ao litoral, do Vale do Itajaí ao Oeste. A história que começa com rotas atlânticas e cartografias do século XVI se transforma, século após século, em agricultura pujante, indústria inventiva, comércio nervoso, tecnologia ascendente e uma cultura que celebra a mesa farta, o trabalho sério e a capacidade de recomeçar depois da enchente, do vento e do sal.
Há um fio que nos costura: orgulho. Orgulho do café servido cedo, da fábrica que gira, da escola que forma, da colônia que preserva seus cantos e receitas, do mar que dá sustento, da serra que abriga e do jeito catarinense de resolver problemas com menos barulho e mais entrega. Não há mito sem esforço. O reconhecimento de Santa Catarina como um dos melhores lugares para viver no Brasil não caiu do céu: é obra de gerações que fizeram do capricho e da cooperação uma força econômica e social.

A Ponte Hercílio Luz é o retrato de uma ambição que nos acompanha há um século. Suspensa entre ilha e continente, ela foi sonho, engenharia arrojada e, depois, saudade quando precisou ser fechada por segurança. O centenário celebra também o gesto coletivo de restaurar e devolver a ponte à cidade — e ao Estado — como símbolo vivo. Quem atravessa a velha senhora de ferro sabe: é mais do que chegar do outro lado; é lembrar que somos capazes de ligar mundos quando a vontade pública se impõe ao cansaço e à descrença.
1526 nos lembra que as datas contam uma parte — importante, mas parcial — da história. Antes da bússola estrangeira, havia povos com suas rotas e cosmologias. Ao celebrar 500 anos, fazemos questão de incluir todas as vozes: as que vieram no casco do navio e as que já guardavam estes caminhos. Porque o nosso “melhor Estado do país” — título que nos enche de amor‑próprio — só faz sentido quando é bom para todos: para quem empreende e para quem procura emprego; para quem nasce na serra e para quem atravessa a ponte; para o pescador do canto da praia e para a cientista no laboratório.
Se efemérides servem, é para lembrar e lançar. Lembrar que em cinco séculos acumulamos trabalho, beleza e pertencimento que não cabem num livro só. Lançar um compromisso: crescer com responsabilidade, proteger o que é nosso (do patrimônio ao meio ambiente), abrir portas para oportunidades e inovação, e manter a fidelidade a um jeito de ser que combina disciplina com acolhimento, tradição com futuro.
Em 2026, quando as bandeiras tremularem e os fogos redesenharem o céu, que a celebração não seja só de calendário. Que se traduza em gestos concretos: mais livros nas mãos das crianças, mais qualificação para quem busca uma chance, mais acesso à saúde, mais respeito às diferenças que nos fazem únicos. Que a Hercílio Luz continue ensinando sobre pontes, e que os 500 anos nos deem fôlego para a travessia seguinte.
Porque ser catarinense é isso: erguer a cabeça depois da ressaca, arrumar a casa depois da chuva, planejar a próxima safra na mesma tarde em que se entrega a atual. É não se contentar com rótulos e trabalhar para merecer o reconhecimento. É amar o que somos — e querer ser ainda melhores.
