Papa Leão XIV e Rei Charles rezam juntos no Vaticano em gesto histórico após quase 500 anos de distanciamento

Em um marco do ecumenismo, Papa Leão XIV e o Rei Charles III rezaram juntos na Capela Sistina, no Vaticano, durante um serviço de oração ao meio-dia. É a primeira vez desde a Reforma que um monarca britânico participa de uma oração pública com um papa. A cerimônia, com coros do Vaticano e da realeza britânica, integrou a visita de Estado do rei e teve como eixos a unidade cristã e o cuidado da criação. Após a liturgia, houve encontro privado no Palácio Apostólico e reuniões com a Secretaria de Estado da Santa Sé.

O encontro de hoje

O rito ecumênico foi presidido por Leão XIV, com a participação do arcebispo anglicano de York, Stephen Cottrell, e de Queen Camilla. Salmos foram entoados em latim e inglês, e a oração final foi conduzida em conjunto. Mais tarde, o rei recebeu o título honorífico de “Royal Confrater” na Basílica de São Paulo Fora dos Muros — gesto simbólico de fraternidade espiritual entre a Coroa britânica e a Santa Sé. A pauta entre Vaticano e Reino Unido incluiu meio ambiente, combate à pobreza e diálogo ecumênico.

Por que é histórico

A oração conjunta coroa décadas de aproximação entre católicos e anglicanos e é apontada como a primeira com um monarca reinante desde a ruptura promovida por Henrique VIII no século XVI. Embora papas e líderes anglicanos já tenham celebrado momentos de oração em conjunto — como João Paulo II e o arcebispo de Cantuária em 1982 —, nunca um rei britânico havia rezado publicamente com um pontífice desde a cisão.

Quase 500 anos de distanciamento — e suas razões

O afastamento remonta à Lei de Supremacia (1534), quando Henrique VIII rompeu com Roma após a negativa do Papa Clemente VII em anular seu casamento com Catarina de Aragão. O ato fez do rei o “Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra”, inaugurando séculos de tensão político-religiosa, perseguições e legislação anticatólica. A partir dos anos 1960, com o diálogo inaugurado por Paulo VI e pelo arcebispo Michael Ramsey, o comitê ARCIC passou a produzir consensos teológicos e a reconstruir laços.

Sinal dos tempos

A presença de Charles — governador supremo da Igreja da Inglaterra — ao lado de um papa recém-eleito em maio (o norte-americano Leão XIV) reforça a leitura de que 2025, ano jubilar, marca um salto simbólico rumo à reconciliação histórica. Para o Vaticano e Buckingham, o gesto não apaga diferenças doutrinais, mas aproxima agendas comuns em paz, meio ambiente e direitos humanos.

A oração conjunta de Leão XIV e Charles III materializa um gesto sem precedentes modernos entre Vaticano e Reino Unido — uma imagem rara que condensa meio milênio de história, a crítica da ruptura do século XVI e o esforço atual por pontes entre católicos e anglicanos.