Produtores de leite de Xanxerê protestam contra importações da Argentina e Uruguai e ameaçam abandonar a atividade

Em meio à crise do setor, agricultores da região de Xanxerê denunciam concorrência desleal do leite importado, dizem que “não fecha as contas” e pedem medidas urgentes do governo.

DMA: IA

Produtores de leite de Xanxerê e região, no Oeste de Santa Catarina, foram às ruas nesta quinta-feira (4) para protestar contra a crise que atinge a atividade e, em especial, contra a concorrência desleal do leite importado da Argentina e do Uruguai. Em ato organizado às margens de rodovia na região, agricultores exibiram faixas com mensagens como “não fecha as contas” e alertaram que muitos já cogitam abandonar a produção de leite se nada for feito pelos governos estadual e federal.

Os produtores reclamam que o litro de leite pago na propriedade não cobre os custos de produção, pressionados por ração, energia, mão de obra e investimentos em sanidade e bem-estar animal. Enquanto isso, o mercado brasileiro registra recordes de importação de lácteos, com destaque justamente para os países vizinhos: segundo o Anuário Leite 2024, da Embrapa, o Brasil bateu recorde de importações em 2023, sendo a maior parte vinda da Argentina e do Uruguai, o que derrubou as margens de lucro em toda a cadeia, especialmente na ponta do produtor.

As entidades de classe e lideranças rurais falam abertamente em “dumping” – prática em que o leite em pó importado chega ao país a preços inferiores ao custo de produção brasileiro, tornando impossível competir em condições justas. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) voltou a cobrar, em audiência na Câmara dos Deputados, a adoção de medidas antidumping contra Argentina e Uruguai, apontando que cerca de 90% do volume de lácteos importados pelo Brasil vem desses dois países.

Diante da pressão do setor, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) anunciou a retomada das investigações antidumping sobre as importações de leite em pó provenientes de Argentina e Uruguai — uma antiga reivindicação de cooperativas, sindicatos rurais e parlamentares ligados ao agronegócio. A expectativa dos produtores de Xanxerê é que essa investigação resulte, na prática, em limites ao leite barato importado e em um ambiente de concorrência mais equilibrado.

Em Santa Catarina, a crise do leite já é tratada como tema de emergência pela Assembleia Legislativa. Audiências públicas recentes apontaram que mais de 30 mil famílias catarinenses dependem diretamente da atividade e que o preço pago hoje ao produtor, em muitos casos, é inferior ao custo de produção, o que leva ao endividamento e ao abandono de propriedades. Entre as sugestões discutidas estão a suspensão temporária das importações, compra governamental de leite em pó para formar estoques, crédito emergencial e políticas de incentivo à industrialização e agregação de valor no estado.

Para os agricultores de Xanxerê, o recado é direto: não pedem privilégio, mas igualdade de condições. Eles defendem que a qualidade do leite catarinense é reconhecida em todo o país, mas que, sem regras claras para conter a enxurrada de produto importado a preços mais baixos, a atividade se torna inviável. Se o cenário não mudar, alertam, o que hoje é um protesto pode se transformar em êxodo do campo, com impacto direto sobre a economia local, o emprego e a produção de alimentos.

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