Quase 3 mil vacas em risco: calvário do navio Spiridon II evidencia falhas no transporte de animais vivos | DMA Notícias

O navio de bandeira togolesa transportava cerca de 2.900 bovinos do Uruguai para a Turquia e está retido ao largo da costa.— um alerta sobre a fragilidade dos protocolos de transporte animal no século XXI.

Foto: Animal Welfare Foundation

A bordo do navio Spiridon II, construído em 1973 e com bandeira de Togo, estão cerca de 2.900 bovinos (incluindo vacas gestantes) que deixaram o Uruguai no final de setembro com destino à Turquia. A embarcação foi impedida de atracar no porto turco de Bandırma no dia 22 de outubro por autoridades que identificaram irregularidades nos documentos de identificação dos animais — sobretudo marcas de orelha (ear tags) incompatíveis e falta de rastreabilidade.

Desde então, o barco permanece ancorado ao largo da costa turca, enquanto os animais enfrentam condições cada vez mais precárias: avaliação de entidades internacionais aponta já dezenas de mortes confirmadas, falência de suprimentos de água e alimento, superlotação, calor, decomposição de corpos de animais a bordo e risco crescente de contaminação ou surto sanitário.

Funcionários da tripulação relataram odor intenso, acúmulo de fezes e cadáveres armazenados em sacos no convés. Entidades de proteção animal apontam que o navio, além de velho e frequentemente multado em inspeções, não reúne condições para uma jornada deste tipo.

Após semanas retido, a embarcação recebeu autorização temporária para reabastecer ração e água, mas teve de retomar viagem em aberto, rumo de volta ao Uruguai — estimando-se chegada somente em dezembro. O tempo adicional prolonga o sofrimento dos animais e aumenta o risco de mortalidade em massa.

Esse episódio expõe uma crise global pouco debatida: o transporte de animais vivos por longas distâncias marítimas, por meio de navios convertidos ou adaptados, com padrões muitas vezes insuficientes. Um relatório recente da Animal Welfare Foundation considera o caso do Spiridon II um “símbolo da falha sistêmica deste comércio”.

Para o Brasil, que também participa de exportações de animais vivos, a tragédia em curso é um alerta claro. Responsáveis pelo setor e autoridades devem avaliar:

  • se as embarcações atendem padrões adequados de bem-estar animal, segurança sanitária e estrutura física;
  • se as cadeias de exportação oferecem transparência, rastreabilidade e fiscalização efetiva;
  • e se é possível revisar ou restringir práticas que colocam em risco vidas, seja de animais ou humanos envolvidos.

Em suma: o navio Spiridon II transporta não apenas animais, mas também responsabilidade, ética e urgência por mudanças. E o que se desenrola agora pode se tornar uma nova marca na história — infelizmente, pelas piores razões.

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