Sicoob SC/RS — da assembleia em Itapema à capilaridade que bancariza o interior.

Série “Gigantes de SC”

Num 8 de novembro de 1985, em Itapema, 27 delegados de cooperativas catarinenses decidiram criar algo que lhes desse escala e autonomia: a Cooperativa Central de Crédito Rural de Santa Catarina (Cocecrer/SC). Era uma aposta simples e profunda: organizar, em comum, serviços financeiros que fortalecessem as filiadas e suas comunidades. Quatro décadas depois, esse gesto inaugural é a raiz do Sicoob Central SC/RS, peça-chave de um sistema que transformou acesso a crédito em desenvolvimento regional.

A trajetória ganhou fôlego com a integração ao Sistema Sicoob em 1997 — quando a central passou a se conectar a uma arquitetura nacional de tecnologia, gestão e produtos — e novo alcance em 2009, ao expandir seu âmbito para o Rio Grande do Sul e adotar o nome atual. No ano seguinte, a primeira cooperativa gaúcha, em Três Coroas, simbolizou a vocação de crescer preservando o DNA comunitário.

O impacto é visível na rua. Em 2025, o Sicoob SC/RS foi reconhecido como a 7ª maior empresa de Santa Catarina no ranking “500 Maiores do Sul”, um retrato do peso econômico que o cooperativismo financeiro ganhou no estado. Por trás da posição, há capilaridade e inclusão: presença em 98% dos municípios catarinenses e 481 pontos de atendimento em SC (além de 171 no RS e 48 no PR), aproximando agência e decisão de quem empreende e produz no interior. A meta explicitada no início do ano — chegar a 100% das 295 cidades — mostra que a expansão segue em curso.

Do ponto de vista financeiro, os números recentes consolidam a central entre as maiores forças do estado: R$ 57 bilhões em ativos totais ao fim de 2024, evolução associada à ampliação da rede, à disciplina de crédito e à digitalização do atendimento. Numa escala mais ampla, o Sicoob nacional reforça o contexto: 4,6 mil pontos de atendimento em cerca de 2,5 mil municípios — sendo a única instituição com agência física em mais de 400 deles — e 8,8 milhões de cooperados. É o cooperativismo financeiro ocupando um espaço que muitos bancos tradicionais deixaram vago.

A digitalização, aliás, não rivaliza com a presença física: complementa. O App Sicoob simplifica abertura de conta e serviços para pessoa física e jurídica; nas frentes de pagamentos, a Sipag completou 10 anos em 2024, com 380 mil máquinas em operação e R$ 60 bilhões transacionados, enquanto o ecossistema adota funcionalidades como Pix Automático para facilitar cobranças e recorrências. Para quem está na ponta — do comércio de bairro ao produtor rural —, isso significa menos fricção, mais previsibilidade e custo financeiro mais justo.

Mas números, por si, não explicam a fibra do projeto. A cada agência aberta numa cidade pequena, há histórias de formalização de micro e pequenos negócios, de crédito que virou estufa, caminhão, estoque; há educação financeira e formação de gente. O conselho e as diretorias das cooperativas singulares decidem perto do cooperado; os resultados — as “sobras” — retornam proporcionalmente à participação de cada um. É um ciclo que sustenta renda local e reduz a dependência de centros distantes, sem perder rigor regulatório e metas de risco. É também por isso que a marca subiu no pódio das grandes de SC: porque representa um projeto coletivo de desenvolvimento, e não apenas um balanço.

Há desafios no horizonte — concorrência digital em alta, custo de funding, educação financeira contínua, exigências regulatórias e de cibersegurança —, mas a musculatura construída em 40 anos ajuda a atravessá-los. A agenda de expansão geográfica, o reforço do crédito produtivo local e a integração de soluções (conta, maquininhas, seguros, investimentos, Pix) mantêm o círculo virtuoso entre escala e pertencimento: crescer sem se afastar do território e das pessoas que justificam a existência da cooperativa.

Mais do que um conjunto de conquistas, a história do Sicoob SC/RS é a prova de que cooperar continua sendo uma tecnologia social poderosa. Reconhecer esse caminho — dos pioneiros da assembleia de 1985 aos times que hoje abrem agência, concedem crédito e ensinam a usar o app — é reconhecer um legado que se mede em negócios abertos, empregos criados e cidades mais vivas. Quando o interior encontra uma porta de entrada para o sistema financeiro — física e digital —, a economia local respira. E é isso, no fundo, o que este capítulo registra: gente comum construindo, juntas, uma das maiores instituições financeiras de Santa Catarina.

Sobre o autor

Compartilhar em: