Série “Cidades de SC”

Fundada em 1933 por imigrantes austríacos, Treze Tílias é daquelas cidades que parecem ter sido recortadas de outro país e coladas no mapa de Santa Catarina. Entre casas com arquitetura tirolesa, jardins floridos, esculturas em madeira e uma culinária típica de fazer qualquer visitante desacelerar, o município do Meio-Oeste catarinense ganhou o apelido de “Tirol brasileiro” e transformou sua história em vocação turística.

A origem da cidade está ligada ao ex-ministro austríaco Andreas Thaler, que liderou o projeto de colonização em plena década de 1930, período de crise na Europa. Os primeiros colonos chegaram em 13 de outubro de 1933, vindos principalmente da região do Tirol e de outras áreas de língua alemã. O próprio nome Treze Tílias remete ao poema épico austríaco Dreizehnlinden (“Treze Tílias”), que inspirou a escolha e reforça a conexão cultural com a terra natal. Hoje, o antigo casarão da família do fundador abriga o Museu Andreas Thaler, conhecido como “Castelinho”, onde documentos, objetos e fotos contam essa travessia e a construção da comunidade.

Com pouco menos de dez mil habitantes, Treze Tílias tem um tecido social fortemente marcado pelo senso de comunidade e pela preservação de costumes. A economia gira em torno dos serviços ligados ao turismo, da indústria de laticínios e do artesanato. A presença da Lacticínios Tirol, uma das marcas mais conhecidas do setor no país, ajuda a ancorar empregos e renda localmente. Ao mesmo tempo, o entalhe em madeira se consolidou como marca registrada da cidade: gera oficinas, ateliês e uma cadeia de artistas que exportam peças únicas, fazendo de Treze Tílias uma referência em escultura em madeira em Santa Catarina.

Caminhar pelo centro é a melhor forma de entender por que o município virou sinônimo de “Tirol brasileiro”. As construções de influência alpina, com madeiramento aparente, telhados inclinados e varandas cheias de flores, criam um cenário que foge do padrão urbano brasileiro. O Parque do Imigrante é um dos cartões-postais: um espaço de lazer com lago, muito verde e uma pequena ilha em formato da Áustria, ligada por ponte, ponto obrigatório para fotos, caminhadas e momentos em família. Nos arredores, as colinas e áreas rurais completam a paisagem com estradas tranquilas, plantações e pequenas propriedades.

A vida cultural também ajuda a explicar a personalidade da cidade. Ao longo do ano, Treze Tílias realiza eventos que reforçam a herança austríaca, com destaque para a Tirolerfest, tradicionalmente realizada em outubro, com desfiles, trajes típicos, música, danças e gastronomia. Bandas locais mantêm viva a tradição da música tirolesa, presente em apresentações em praças, festas e encontros comunitários. Mesmo fora das grandes festas, é comum encontrar apresentações de grupos folclóricos e eventos que valorizam o cantar e o dançar típico.

Na gastronomia, a experiência é um capítulo à parte. Cafés coloniais fartos, com pães, embutidos, queijos, geleias e doces, dividem espaço com pratos quentes típicos da culinária de influência austríaca e alemã: schnitzel (bife à milanesa ao estilo vienense), diversos tipos de salsichas, joelho de porco, sopas e massas caseiras. Nas sobremesas, o clássico apfelstrudel (folhado de maçã) e tortas variadas fazem a alegria de moradores e visitantes. Cervejas artesanais e vinhos da região também costumam aparecer à mesa, reforçando a experiência gastronômica como um dos grandes atrativos do município.

Mesmo sendo um destino de interior, Treze Tílias recebe visitantes o ano inteiro. No inverno, o clima frio e, às vezes, com temperaturas próximas de zero, ajuda a compor o imaginário “alpino” e favorece lareiras acesas, fondues e jantares demorados. Na primavera e no verão, a cidade ganha cores com jardins floridos, atividades ao ar livre nos parques e maior movimento nas rotas turísticas da região. A localização no Meio-Oeste catarinense, próxima a cidades como Joaçaba e Videira, facilita o acesso por rodovias estaduais conectadas à BR-282 e à BR-470.

Treze Tílias é, no fim das contas, um pedaço da Áustria em terras catarinenses, mas sem perder sua identidade brasileira. Entre a memória dos colonos, a força da indústria, o talento dos escultores e o cheiro de comida saindo das cozinhas típicas, a cidade construiu uma narrativa própria. Para quem visita, fica a sensação de estar em um lugar onde a cultura não é apenas lembrada, mas vivida no dia a dia — nas fachadas, nos sotaques, nas músicas e nos sabores que fazem do “Tirol brasileiro” uma parada obrigatória na rota das cidades de Santa Catarina.

Tags: Treze Tílias; Tirol brasileiro; Andreas Thaler; escultura em madeira; Parque do Imigrante; Tirolerfest; gastronomia típica

Sobre o autor

Derly Massaud de Anunciação

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