Sem dinheiro não há ditadura: pressão dos EUA seca fontes de Maduro e acelera desgaste do regime

Com sanções ao petróleo, apreensão de navios e ataques a barcos de drogas, EUA fragilizam finanças da Venezuela e colocam em xeque a capacidade de Maduro de comprar lealdades e sustentar o aparato repressivo.

Ditaduras não se mantêm apenas com discurso ideológico ou repressão bruta. Elas precisam, antes de tudo, de dinheiro – muito dinheiro – para alimentar o entorno, comprar lealdades, financiar milícias, pagar o aparato de segurança e manter uma máquina de poder permanentemente lubrificada. No caso da Venezuela de Nicolás Maduro, esse caixa vem, basicamente, de duas frentes denunciadas e monitoradas pela comunidade internacional: o petróleo e o narcotráfico.

Nas últimas semanas, os Estados Unidos elevaram a pressão a um novo patamar, atacando diretamente esses dois vasos sanguíneos do regime. De um lado, intensificaram a política de sanções e ações militares contra embarcações ligadas ao tráfico de drogas que saem ou operam a partir da Venezuela. Desde setembro, o governo americano passou a usar força militar direta contra barcos suspeitos, inclusive com ataques letais a embarcações no Caribe, em operações que já deixaram dezenas de mortos e abriram um debate mundial sobre a legalidade dessas ações.

De outro lado, veio o passo mais simbólico e contundente: a apreensão de um grande petroleiro carregado com óleo venezuelano nas proximidades da costa do país. O navio, identificado como Skipper (antigo Adisa), já constava em listas de sanções e teria carregado petróleo pesado no terminal de José, na Venezuela, antes de ser interceptado por forças dos EUA. O próprio presidente Donald Trump classificou a ação como a “maior apreensão de petroleiro da história”, em uma escalada clara do bloqueio às exportações de petróleo vinculadas ao regime de Maduro.

Essas medidas não surgem do nada. Há anos Washington acusa a cúpula chavista de participar de esquemas de narcotráfico internacional, inclusive com o chamado “Cartel de los Soles”, formado por militares e altos funcionários, e já indiciou Maduro em cortes federais por narco-terrorismo e tráfico de drogas, além de oferecer até US$ 50 milhões de recompensa por informações que levem à sua prisão e condenação.

No campo econômico, a pressão também se intensificou. Depois de um período de alívio parcial, os EUA reimpuseram sanções ao petróleo venezuelano e passaram a ameaçar com tarifas países que importarem o óleo do regime, além de usar navios de guerra para intimidar ou bloquear petroleiros sancionados que tentam chegar à Venezuela ou sair dela.

Do ponto de vista lógico e político, o raciocínio é direto:

  1. Ditaduras se sustentam em redes de lealdade compradas – militares bem pagos, cúpulas partidárias privilegiadas, juízes e chefes de polícia recompensados, além de grupos paramilitares “amigos do regime”.
  2. Essas redes só se mantêm firmes enquanto o caixa estiver cheio. Quando o dinheiro começa a faltar, aparece o que todo regime autoritário mais teme: rachas internos, dissidências e traições.
  3. Ao atacar duas grandes fontes de receita – exportação de petróleo sob sanções e rotas de drogas ligadas ao entorno do regime –, os EUA buscam estrangular financeiramente o coração do sistema.

Não é preciso gostar da estratégia americana para reconhecer o efeito que esse cerco tende a produzir: menos dinheiro, mais disputa interna pelo pouco que resta. E, nesse tipo de cenário, a história recente mostra que regimes autoritários ruem de dentro para fora – não porque, de repente, “descobriram a democracia”, mas porque uma parte da elite entende que o custo de manter o líder passou a ser maior do que o de substituí-lo.

O governo Maduro ainda conta com alguns pilares: apoio de setores das Forças Armadas, alianças com atores externos como Rússia e Irã, e uma máquina de repressão consolidada. Porém, com sanções mais duras, navios apreendidos, rotas de drogas sob ataque e um prêmio milionário na cabeça do próprio presidente, a equação de risco começa a mudar para quem hoje forma o núcleo duro do chavismo.

É impossível cravar datas ou profetizar o dia exato da queda de qualquer regime – a política internacional não é matemática. Mas a lógica do poder é conhecida: sem dinheiro para sustentar o entorno e proteger o chefe, a fidelidade evapora. Virão as dissidências, os grupos que se movimentam em silêncio, os que tentarão negociar saídas pessoais, anistias, garantias. Em algum momento, alguém decidirá que Maduro é mais caro vivo no poder do que fora dele.

O que resta, agora, é acompanhar quanto tempo ele consegue resistir a um cenário em que as duas torneiras principais de recursos – petróleo e o circuito criminoso que gira em torno do regime – passam a ser fechadas, uma a uma, por pressão externa. Quando o dinheiro seca, a retórica revolucionária já não basta.


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