Vidas perdidas no trânsito.

Mortes nas estradas não são “acidente”: são escolha e omissão.

Foto: Agência Senado

Todo dia o país acorda com mais cruzes no asfalto. Em 2023, 34.881 pessoas morreram em ocorrências de trânsito no Brasil — alta sobre 2022, segundo consolidação do DataSUS feita pelo Observatório Nacional de Segurança Viária. A conta não inclui apenas números: são famílias desfeitas e uma pressão constante sobre saúde pública e produtividade. Globalmente, a OMS lembra que os sinistros viários são a principal causa de morte de 5 a 29 anos; dois terços das vítimas estão em idade produtiva, e homens morrem cerca de 3 vezes mais que mulheres.

As causas diretas são conhecidas — e evitáveis: álcool, excesso de velocidade, celular ao volante, ausência de cinto/capacete e manobras agressivas. Do lado da infraestrutura, o retrato das estradas brasileiras expõe pavimento ruim, sinalização falha e traçados inseguros, como apontam levantamentos da CNT (pavimento, sinalização e geometria avaliados em 22 variáveis). O resultado é um sistema que tolera o erro humano e multiplica seus efeitos.

Foto: JusBrasil

O impacto econômico é gigantesco. Atualizações de estudos baseados no Ipea estimam que os acidentes de trânsito custam na casa de R$ 50 bilhões/ano em perdas de produção, atendimento hospitalar e danos materiais — dinheiro que falta a escolas, hospitais e investimento. Em amostras de rodovias federais, os custos com vítimas responderam por mais de 60% do total. Ou seja: prevenir vidas é também boa gestão fiscal.

O que precisa mudar — já: motoristas devem tratar a direção como ato de responsabilidade pública. Não beba e dirija. Respeite limites de velocidade. Largue o celular. Use cinto e capacete sempre, inclusive no banco de trás. Essas quatro decisões simples derrubam, de imediato, o risco individual e coletivo. Do lado do poder público, a resposta tem de sair do discurso: fiscalização intensiva e inteligente (radares calibrados, blitz de álcool e drogas, checagem de cinto/capacete), sinalização padronizada e legível, manutenção rotineira de pavimento e obras cirúrgicas em pontos críticos (terceiras faixas, barreiras, rotatórias e passarelas). A abordagem de “Sistema Seguro” — vias que perdoam erros, veículos mais seguros, limites coerentes e socorro rápido — é o padrão recomendado pela OMS e precisa ser política de Estado, com metas públicas e prestação de contas.

Há, ainda, medidas de baixo custo e alto retorno que municípios podem adotar: zonas 30 em áreas escolares e de comércio, redutores e faixas elevadas, iluminação de travessias, ciclovias conectadas e campanhas permanentes (não só no Maio Amarelo). Tecnologia ajuda: monitoramento por dados, priorização de trechos com maior concentração de feridos graves, resgate pré-hospitalar cronometrado e educação para o trânsito desde o fundamental.

Este editorial cobra veementemente: motoristas, a vida que você salva pode ser a sua — e a de quem não escolheu dividir a pista com sua imprudência. Autoridades, não há desculpa para metas tímidas e cronogramas eternos. Com 34.881 mortos/ano, cada mês de omissão custa centenas de vidas e bilhões de reais. Trânsito seguro não é sorte; é decisão política e comportamento responsável — hoje.

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