Celac e UE realizarão uma cúpula esvaziada.
Em razão das ausências, encontro perde tração política e eleva risco de um comunicado final diluído.

A cúpula Celac–União Europeia, que acontece amanhã na Colômbia, chega esvaziada. Além de participações rebaixadas em várias delegações, houve desistências de última hora, entre elas a do presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O cenário tira força do gesto simbólico — líderes na mesma mesa — e empurra o encontro para uma agenda mais protocolar e técnica, com baixa probabilidade de anúncios robustos.

No pano de fundo, pesam três vetores de ausência. Primeiro, calendários domésticos e crises internas que sequestram tempo e capital político de chefes de governo. Segundo, atritos de agenda: há fricções em torno de cláusulas ambientais e industriais (em especial no diálogo comercial), de linguagem sobre conflitos internacionais e de financiamento de transição energética, temas nos quais os blocos costumam divergir. Terceiro, logística e protocolo: mudanças de última hora, dúvidas sobre o nível de representação e a percepção de que o encontro não entregaria ganhos concretos também contam.
Sem os principais líderes, diminui a chance de destravar compromissos — metas, cronogramas e dinheiro novo. Na prática, crescem as probabilidades de:
• Comunicado final mais genérico, com fórmulas de consenso.
• Anúncios fragmentados, deslocados para reuniões setoriais (energia, migração, digital).
• Projeção internacional reduzida do encontro, com menor repercussão na imprensa global.
• Atraso em frentes sensíveis da agenda birregional, que dependem de sinal político do alto escalão.
Ainda assim, não é jogo perdido. Delegações técnicas e ministros podem amadurecer instrumentos que ficam prontos para assinatura em próximos encontros — memorandos de entendimento, facilidades de financiamento com bancos de desenvolvimento, projetos-piloto em transição energética e conectividade e mecanismos de cooperação regulatória. O desafio é converter esse trabalho de base em resultados verificáveis, mesmo sem a foto dos líderes.
O esvaziamento da cúpula Celac–UE enfraquece o sinal político e reduz a ambição do encontro, mas não precisa zerar o jogo. Se houver foco e coordenação, é possível resgatar parte da agenda com entregas técnicas e prazos de implementação. Sem isso, a reunião corre o risco de virar nota de rodapé — e de reforçar a percepção de desalinho entre América Latina e Europa em um momento de disputas globais por investimento e influência.
