Como funciona a política em Brasília — e por que o povo segue em segundo plano | DMA Notícias

Projeto de aposentadoria especial escancara como pautas de interesse público viram moeda de troca em Brasília, enquanto a população continua em segundo plano.

Há momentos em que Brasília escancara sua verdadeira lógica de funcionamento, muito distante da narrativa de “Casa do Povo” que o Congresso deveria representar. O episódio mais recente envolve a regulamentação da aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde — um direito legítimo, necessário e amplamente defendido pela sociedade. Mas a pergunta inevitável é: se a causa sempre foi justa, por que estava engavetada?

A resposta é aquilo que todos sabem, mas poucos dizem abertamente: porque em Brasília, para muitos parlamentares, o interesse da população raramente é prioridade. O que determina o ritmo das votações não é a urgência do Brasil real, mas a conveniência política de quem detém o poder de pautar ou travar o andamento das matérias.

A prova disso veio quando a indicação a uma vaga no Supremo Tribunal Federal contrariou o desejo de um dos principais articuladores do Congresso. Subitamente, um projeto que dormia há meses — ou anos — ganhou urgência total. O que mudou? A necessidade de demonstrar força. O desejo de dar um recado. A disputa pessoal acima da agenda pública.
É assim que funciona Brasília.

Não estamos aqui defendendo nomes para o STF, nem atacando escolhas políticas específicas. O que está em análise é algo mais profundo e mais grave: até quando o país seguirá refém dos caprichos, ressentimentos e estratégias individuais de quem deveria zelar pelo interesse coletivo?

A população brasileira enfrenta problemas reais: saúde precária, falta de segurança, desigualdade crescente, impostos sufocantes, serviços públicos ineficientes. E enquanto isso, projetos relevantes ficam travados em gavetas e cofres legislativos, sendo resgatados apenas quando servem de moeda política em disputas de poder.

Não há nome elegante para isso. É chantagem política. É barganha institucionalizada. É o famoso “toma lá, dá cá” que, em vez de diminuir, se sofisticou ao longo das décadas.

E é aqui que o alerta deve ser claro e direto: o Brasil precisa romper com essa lógica medieval de governabilidade.
Parlamentares foram eleitos para legislar, fiscalizar e representar o povo — não para negociar direitos essenciais como fichas de tabuleiro, nem para reter pautas importantes até que se tornem ferramentas de pressão pessoal.

A aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde é merecida, relevante e urgente. Mas também é um retrato cruel do sistema político brasileiro: quando convém, anda; quando não convém, apodrece nas gavetas do Congresso.
E isso acontece com dezenas de projetos todos os anos.

Brasília precisa amadurecer. Precisa reconhecer que o Brasil não suporta mais negociatas, retaliações e estratégias de bastidores que atrasam a vida de milhões. Precisa que seus parlamentares finalmente compreendam que foram colocados lá para defender o cidadão — não suas próprias ambições, vaidades ou vinganças políticas.

A pergunta que fica é simples, mas poderosa:
se os parlamentares não mudarem de postura agora, quando mudarão? E a que preço continuaremos pagando essa conta?

O país exige responsabilidade.
O povo exige ser prioridade.
E Brasília precisa, urgentemente, corresponder.

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