Quando o Congresso vira circo: tumultos, empurra-empurra e parlamentar retirado pela Polícia Legislativa
Sessões interrompidas, gritaria, empurra-empurra e até deputado retirado à força expõem o nível de desrespeito no Congresso Nacional, cada vez mais distante do que a sociedade espera de seus representantes.

O Congresso Nacional vive uma crise que não é apenas política ou institucional. É também – e sobretudo – de postura. Em vez de ser a “Casa do Povo”, espaço do debate firme, mas civilizado, o plenário da Câmara vem se transformando em um palco permanente de cenas constrangedoras: gritos, ofensas, empurra-empurra, transmissões suspensas e parlamentares usando o microfone como se estivessem em palanque eleitoral ou rede social.
O episódio mais recente envolve o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Nesta terça-feira (9), ele ocupou a cadeira da Presidência da Câmara em protesto contra o processo que pode levar à sua cassação e se recusou a deixar o posto. Após cerca de 45 minutos de impasse, a Polícia Legislativa foi chamada e o parlamentar acabou retirado à força da Mesa Diretora, sob gritos, empurra-empurra e plenário esvaziado. A TV Câmara teve a transmissão interrompida, e a imprensa chegou a ser retirada do local.
Glauber já é alvo de um processo no Conselho de Ética da Câmara, que em abril aprovou, por 13 votos a 5, parecer recomendando a cassação do seu mandato por quebra de decoro, após episódio em que ele expulsou, com empurrões e chutes, um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) das dependências da Casa em 2024. A decisão ainda depende de análise da CCJ e, depois, do plenário.
Mas não é só um deputado. O problema é generalizado. Nos últimos meses, o Brasil assistiu a cenas de turba em plenário, ocupação da Mesa, deputados se acusando de agressão física, jornalistas caindo no chão no meio do empurra-empurra e até mesa de vidro quebrada durante a visita do ex-presidente Jair Bolsonaro à Câmara, quando o deputado Nikolas Ferreira saiu ferido no rosto.
Enquanto isso, temas centrais para a vida do cidadão – como reforma tributária, saúde, educação, segurança pública, emprego e renda – frequentemente são usados como munição de guerra ideológica. Perdeu no voto? Judicializa. Ganhou na pressão? Faz vídeo, lacra nas redes e segue o roteiro de discursos inflamados, muitas vezes vazios de conteúdo e cheios de ataques pessoais. A política é levada para o tapete do Judiciário; o plenário, para a timeline.
É evidente que existem exceções – parlamentares sérios, técnicos, discretos, que trabalham sem aparecer e tentam preservar o mínimo de decoro. Mas a imagem que chega à população é a dos excessos, da gritaria, da falta de respeito ao regimento e, em muitos casos, da ausência de simples educação básica: ouvir o outro, esperar a vez de falar, respeitar a decisão da maioria.
O resultado é devastador para a confiança nas instituições. Pesquisas de opinião vêm mostrando, ano após ano, queda na credibilidade do Congresso aos olhos da população, que olha para Brasília e enxerga mais espetáculo do que solução. Em meio à crise econômica, desigualdade, violência e serviços públicos deficientes, o cidadão que luta para chegar ao fim do mês não se vê representado em um plenário que parece, cada vez mais, um reality show permanente.
Criticar com veemência essa postura não é atacar a democracia – é justamente o contrário. Democracia pressupõe responsabilidade, respeito às regras, seriedade no uso do mandato. Quando deputados transformam o Congresso em arena de vaidades e conflitos pessoais, desrespeitam o cargo que ocupam e o povo que dizem representar.
O brasileiro não merece um Congresso-circo. Merece um Parlamento que discuta com firmeza, discorde com dureza quando for o caso, mas que saiba preservar o decoro, o regimento e, sobretudo, a dignidade mínima que o cargo exige. Em um momento em que o país precisa de soluções, é urgente que nossos parlamentares desçam do palco e voltem ao papel para o qual foram eleitos: trabalhar pelo Brasil, e não pelo próprio show.
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