Lula volta a defender financiamento de obras no exterior via BNDES e reacende debate que marcou sua condenação na Lava Jato | DMA Notícias

Mesmo com graves desafios internos no Brasil — especialmente no Norte e Nordeste — presidente retoma discurso de fomento internacional e cita experiências como Moçambique e projetos alinhados ao G20.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender, de forma enfática, a necessidade de o Brasil financiar obras e projetos de infraestrutura em outros países, especialmente em nações em desenvolvimento e integrantes do G20. Segundo Lula, a estratégia fortalece a diplomacia econômica brasileira, amplia mercados para empresas nacionais e melhora a posição do país no cenário internacional.

A declaração reacende um debate que marcou profundamente a política brasileira nos últimos 15 anos: o uso do BNDES para financiar projetos no exterior, mecanismo que acabou no centro da Operação Lava Jato, do desgaste político do PT e da própria condenação de Lula — posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal.


O histórico: o que foi feito no passado e como virou argumento central da Lava Jato

Durante os governos Lula e Dilma, o BNDES financiou grandes obras de empresas brasileiras em países como Moçambique, Angola, Venezuela, Cuba e República Dominicana. O modelo tinha lógica econômica: garantir contratos para construtoras nacionais e fortalecer laços diplomáticos.

Entretanto, o esquema se tornou um dos principais alvos da Lava Jato. Segundo os investigadores, parte dos financiamentos internacionais estava conectada a relações impróprias entre empreiteiras, áreas públicas e agentes políticos, gerando suspeitas de favorecimento, corrupção e pagamentos indevidos.

A acusação contra Lula — posteriormente derrubada pelo STF — alegava que o ex-presidente teria atuado para beneficiar especificamente a Odebrecht em contratos internacionais. Embora a condenação tenha sido anulada por falhas processuais, o tema permaneceu sensível, tanto do ponto de vista político quanto do financeiro.


Os resultados práticos: obras inacabadas, calotes e prejuízo ao Tesouro Nacional

O modelo de financiamento externo deixou marcas econômicas relevantes.

Dívidas que não foram pagas

Diversos países beneficiados pelos créditos do BNDES não honraram seus compromissos. Em vários casos, o Tesouro Nacional precisou cobrir os prejuízos. Entre os principais calotes:

  • Venezuela – maior devedor brasileiro, deixou de pagar bilhões vinculados a projetos da Odebrecht e outras construtoras.
  • Cuba – não quitou parte importante dos financiamentos, incluindo os ligados ao Porto de Mariel.
  • Moçambique – atrasos recorrentes e renegociações.
  • Angola – apesar de parcialmente adimplente, acumula histórico de atrasos.

Essas dívidas abertas foram absorvidas pelo Tesouro, ou seja, pagas pelo contribuinte brasileiro.

Obras incompletas e abandonadas

Além da inadimplência, há registro de obras que não foram concluídas, foram paralisadas por crises políticas nos países contratantes ou ficaram abaixo do esperado.


O retorno da defesa do modelo: G20 e Moçambique

Agora, no terceiro mandato, Lula volta a defender o financiamento externo como ferramenta de política econômica internacional. Em declarações recentes, citou o G20 e exemplos africanos, como Moçambique, afirmando que o Brasil deve “ajudar países pobres a se desenvolverem” e que o BNDES deve atuar como indutor de investimentos multilaterais.

Para críticos, no entanto, a retomada desse discurso ignora problemas reais vividos pelo Brasil no passado — tanto os prejuízos financeiros quanto os riscos de novos escândalos.


Opinião do DMA Notícias

O Brasil precisa priorizar o Brasil

O DMA Notícias entende que:

  • Projetos internacionais podem ter valor estratégico,
    mas não podem ser prioridade enquanto o país ainda enfrenta problemas internos tão graves.

O presidente Lula demonstra preocupação em fortalecer relações internacionais — uma visão legítima — mas a experiência passada mostrou:

  • Prejuízos bilionários ao Tesouro,
  • calotes de diversos países,
  • obras inacabadas,
  • e forte desgaste institucional, inclusive com consequências penais.

Ao mesmo tempo, regiões brasileiras como Norte e Nordeste seguem com carências estruturais gigantescas:

  • saneamento básico precário,
  • baixa industrialização,
  • infraestrutura deficiente,
  • desigualdade extrema,
  • dependência preocupante de programas sociais como o Bolsa Família.

Se o objetivo é desenvolvimento, a prioridade deveria ser interna.
Afinal, não faz sentido financiar estradas, portos e ferrovias fora do país enquanto muitas cidades brasileiras sequer possuem rede de água tratada ou oportunidades de emprego.

O Brasil precisa — e merece — investimento pesado em sua própria gente antes de financiar o crescimento de outros países.

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