Opinião: como direita, esquerda e Centrão se comportam na prática na política brasileira
Mais do que ideologia, importa observar o comportamento: a direita que briga entre si, a esquerda que marcha em bloco e o Centrão que se move conforme o vento do poder.

Quando se fala em direita, esquerda e Centrão, a discussão normalmente vai para aquilo que cada campo “acredita”: Estado maior ou menor, mais ou menos intervenção, pautas de costumes, e assim por diante. Mas, para o cidadão comum, muitas vezes interessa menos o discurso e mais como essas forças se comportam na prática — como lideranças agem, como organizam suas militâncias e como se posicionam diante do poder.
No Brasil, o desenho é relativamente claro.
A direita, em boa parte, briga com ela mesma. É um campo fragmentado, com muitos líderes, muitas siglas e poucos consensos duradouros. Qualquer divergência de estratégia, tom de discurso ou projeto de poder vira conflito público nas redes sociais, nas entrevistas e até dentro dos partidos. A consequência é a imagem permanente de desunião, mesmo quando há concordância em temas centrais. A direita brasileira reflete, em parte, o próprio sistema partidário: hiperfragmentado, com dezenas de siglas disputando espaço e liderança, o que dificulta a construção de blocos sólidos e disciplinados.
Já a esquerda costuma atuar de forma diferente. O discurso é unificado em torno de lideranças e partidos fortes, como PT e seus aliados mais próximos. Em muitos temas, o “certo ou errado” da pauta específica acaba em segundo plano; o que prevalece é o alinhamento ao que a liderança definiu como narrativa principal. Isso se traduziu, por exemplo, na forte disciplina das bancadas de esquerda em votações importantes no Congresso ao longo dos últimos anos, em especial durante governos petistas, com elevado grau de fidelidade partidária em relação à média do sistema político brasileiro. Em outras palavras: a esquerda se organiza mais como “bloco” do que como ilha isolada.
O Centrão, por sua vez, quase se define sozinho: não é propriamente ideológico, é pragmático. Trata-se de um conjunto de partidos e lideranças que se posiciona “no centro” não por convicção programática, mas porque prefere estar sempre próximo de quem governa, seja de direita ou de esquerda. Em um sistema de presidencialismo de coalizão como o brasileiro, esse grupo funciona como um “pêndulo”: apoia o governo de turno em troca de espaço político, cargos, emendas e influência na máquina pública — e não tem grandes constrangimentos em mudar de lado quando o vento muda.
Na prática, o Centrão fica na espreita, observa a correlação de forças e, quando o cenário está claro, se alinha ao interesse do momento. Foi assim em diferentes governos: apoiou Fernando Henrique, sustentou Lula e Dilma, esteve na base de Michel Temer, compôs com Jair Bolsonaro e hoje ocupa espaço relevante na base do governo Lula novamente — sempre com grande peso na Câmara dos Deputados. É um grupo que, goste-se ou não, aprendeu a ler o jogo do poder e a se manter relevante em qualquer conjuntura.
O resultado é um cenário em que:
- a direita muitas vezes perde força para si mesma, em brigas internas, disputas de protagonismo e divisões que enfraquecem o conjunto;
- a esquerda ganha tração quando fala com uma voz só, ainda que, internamente, existam diferenças que ficam em segundo plano diante da necessidade de manter o bloco coeso;
- o Centrão sobrevive e se fortalece justamente por não se fixar em um lado, mas em estar perto do poder, qualquer que seja o governo.
Para o eleitor, isso ajuda a entender por que, muitas vezes, o discurso de campanha não bate com o comportamento pós-eleição. A direita, ao chegar ao poder, depende de partidos que muitas vezes não compartilham integralmente suas bandeiras. A esquerda, quando governa, negocia com o mesmo Centrão que criticou. E o Centrão, invariavelmente, está sentado à mesa, qualquer que seja o ocupante do Planalto.
Não se trata aqui de julgar o que é “bom” ou “mau”, mas de reconhecer um padrão de funcionamento da política brasileira:
- um campo que se fragmenta;
- um campo que se disciplina;
- e um bloco que se adapta.
Enquanto não houver reformas que reduzam a fragmentação partidária, melhorem a qualidade da representação e diminuam a dependência de grandes blocos fisiológicos, essa dinâmica tende a se repetir: a direita se dividindo em praça pública, a esquerda marchando em fila e o Centrão cobrando pedágio para que qualquer governo consiga governar.
Em resumo, é assim que os espectros políticos têm agido no Brasil: menos pela cartilha das ideias e mais pela lógica do comportamento, do poder e da sobrevivência. Entender isso ajuda o cidadão a ler melhor os movimentos de Brasília — e a não se surpreender com alianças que, à primeira vista, parecem improváveis, mas que, na prática, são apenas a continuidade desse jogo.
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